Que 2020 não foi um ano fácil para a maioria da população mundial, isso já não é novidade. Mas e o que podemos fazer diante de uma situação que não está sob nosso controle? Eu, por exemplo, decidi fazer uma pausa.
Uma pandemia em escala global que pouco se sabia a respeito gerou pânico ao redor do mundo, além de trazer isolamento social, homeoffice compulsório, homeschooling de seus filhos, além de crise econômica mundial, aumento da taxa de desemprego, dentre tantas outras consequências.
Por outro lado, a tecnologia ganhou ainda mais força através da digitalização e, com ela, veio a inundação de informações por todos os lados – a infoxicação, já tratada no artigo anterior. A nossa mente precisa de descanso enquanto processa tantas informações e a pausa facilita o processo de assimilação. Assim, utilizei esse intervalo na minha carreira para me aprofundar num tema ao qual mais me dediquei nos últimos meses: o autoconhecimento.
Apesar de a Inteligência Emocional (ou quociente emocional) estar fundamentada em outros 3 pilares: autoconhecimento, empatia e gerenciamento de relações, a minha conclusão é que tudo se inicia com o autoconhecimento. Entretanto, essa viagem em direção ao eu interior só tem fim quando a vida também alcança o seu episódio final. A verdade é que, quanto mais se conhece a si próprio, mais se é capaz de compreender os outros e, só então, é possível contemplar os demais pilares.
Eu já vinha fazendo essa jornada há algum tempo, por meio de terapia e mergulhando no conhecimento trazido pela neurociência através da programação neurolinguística. Porém, com a necessidade de fazer uma pausa em meio ao caos em que o mundo-covid se encontra, decidi experimentar um programa de autocuidado, que não necessariamente significaria ir a um spa ou receber cuidados para o corpo e pele, como comumente pode ser associado.
Ele vai muito além disso: é uma proposta de trilhar um caminho interno e profundo no âmago do ser humano, através da construção de hábitos para promover benefícios para a saúde física, mental e, sobretudo, emocional do indivíduo.
“Para o bem ou para o mal, quando são as emoções que dominam, o intelecto não pode nos conduzir a lugar nenhum.” (Daniel Goleman)
O autocuidado consiste em rituais de introspecção e, para tal, contei com o suporte da minha terapeuta sistêmica, que elaborou um programa baseado em atividades como meditações diárias, músicas para aumentar a vibração do corpo, pela manhã, assim como para diminuí-la, ao dormir. Além de sessões de amor próprio, escrita de diário e momentos de completo silêncio.
O lugar escolhido para isso foi a Ilha da Madeira, um paraíso português perdido no meio do Atlântico, com clima ameno, mesmo em pleno inverno europeu, praias paradisíacas e paisagens de montanhas de tirar o fôlego! Considerada o destino mais seguro da Europa desde o início da pandemia pela “European Best Destinations”, a ilha apresentava baixíssimos casos de covid devido às rigorosas medidas para acessá-la, tais como teste obrigatório na entrada e quarentena monitorada até a divulgação do resultado e, ainda, uma repetição do teste após 5 dias de permanência.
Detectaram casos controlados na ilha e, por isso, ela funcionava sem lockdown. Obviamente, as boates e outros possíveis locais de aglomeração de pessoas estavam fechados. Desta forma, dava uma sensação de mais alívio no âmbito de isolamento social. Isso me permitiu, ainda com as medidas de proteção em mente, também explorar as minhas habilidades sociais, ampliar a consciência dos fatores externos que me influenciavam, além de melhor compreender como também impacto o ambiente à minha volta.
Porém, o mais importante para mim era garantir que estivesse completamente conectado às emoções que eram geradas a partir disso tudo, e isso somente é possível e real quando se está de fato presente – mindfulness!
O autocuidado ajuda a promover pensamentos positivos e a cultivar um relacionamento consigo mesmo, o que potencializa a autoestima e a autoconfiança. De acordo com a Harvard Business Review (2020), pessoas conscientes de si são melhores colegas de time e influenciam positivamente o ambiente, contribuindo assim para o aumento da produtividade e eficiência.
Outro fator que torna as pessoas até 31% mais produtivas é a felicidade que, de acordo com pesquisas da Psicologia Positiva, possui uma relação intrínseca com o quociente emocional e é apontada por trazer o sucesso, e não o contrário. A felicidade, ainda de acordo com os mesmos estudos, é considerada uma habilidade e pode ser praticada. O autocuidado, portanto, parece ser uma das formas viáveis para fomentar essa atitude de felicidade na nossa vida.
Enfim, durante tempos difíceis ou entre ciclos de mudanças na vida, a pausa é uma das melhores maneiras de internalizar as transformações pelas quais passamos com o intuito de potencializar os resultados que esperamos delas.
Associá-la a um programa de autocuidado foi essencial para que eu pudesse ter mais disposição e energia para continuar meus projetos.
Tendo em vista os aspectos observados, o autocuidado se baseia, portanto, no quanto voltamos a atenção a nós mesmos para a construção de hábitos saudáveis visando promover benefícios ao nosso corpo, mente e espírito. Porém, não deveríamos fazer essa pausa em função da dedicação própria somente em casos extremos, como um evento isolado e único, mas, sim, fazermos dela a própria agenda, como uma prática diária e comum na nossa vida.