A pandemia mundial mudou drasticamente a maneira como a maioria das pessoas ao redor do mundo trabalha, e a principal delas foi a ampliação da adoção do home office. No entanto, para certos nichos de negócios, o profissional nem precisa necessariamente ter uma residência fixa, apenas uma conexão com internet é o suficiente para lhe oferecer a liberdade geográfica para executar seu trabalho de qualquer lugar do planeta: caro leitor, bem-vindo ao nomadismo digital!

Como escrevi no artigo anterior, fiz uma pausa na minha carreira para um período de autocuidado, cujo um dos rituais era a escrita de um diário, onde eu relatava as experiências e sentimentos que tinha ao longo de cada dia. E assim nasceu o interesse em ser redator conteudista, ao passo que me possibilita contribuir coletivamente, também na minha área de conhecimento profissional, no intuito de inspirar outras pessoas.

Então tomei conhecimento que esse tipo de profissional é o que mais vem adotando o nomadismo digital, devido a aceleração da digitalização do trabalho catalisado pela pandemia e a possibilidade de trabalhar remoto enquanto viaja.

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Imagem meramente ilustrativa (banco de imagens do site123.com – livre de royalty para membros)

Nesse sentido, a ilha portuguesa da Madeira, cujo apelido é “pérola do Atlântico” e eleita pela World Travel Awards como destino de preferência de ilhas na Europa, está um passo adiante e criou uma vila nômade digital, que oferece aos viajantes-trabalhadores um ambiente de trabalho com mesas e cadeiras, além de internet de graça. O projeto conta ainda com a colaboração de corretoras de imóveis, hotéis e agências de aluguel de carros para facilitar o acesso aos nômades.

Portanto, na Ilha da Madeira, aproveitei para também explorar as minhas habilidades sociais, tendo em mente que esta competência também é um dos pilares da inteligência emocional, claro, tomando as devidas precauções de segurança e higiene exigidas em tempos de Covid-19.

Então, fiz parte de um grupo no Facebook de nômades digitais da ilha e de lá pulei para um grupo de Whatsapp, onde havia outras 250 pessoas inscritas, entre nômades e fornecedores locais de serviços. Fiquei impressionado com a forma como estavam organizados. Há, inclusive, uma comunidade no Slack, na qual os nômades podem se conectar de acordo com o ramo de atuação profissional, e assim gerar outros negócios e parcerias.

Como eu tinha muita vontade de explorar a natureza da ilha, perguntei no grupo quem tinha interesse em fazer uma trilha nas montanhas e, assim, organizei um tour com um pequeno grupo para fazer uma trilha e assistir ao nascer-do-sol no topo da montanha. 

Foto: Montanhismo na Bica da Cana, Ilha da Madeira, Portugal. Dez. 29,2020.

Não tivemos sucesso pois estava nublado, mas valeu a aventura e conhecer as pessoas que fizeram parte dela. E foi assim que conheci a Echo Tam, uma simpática chinesa de 34 anos que até setembro de 2020 era gerente de contas numa multinacional do ramo de produtos de luxo e joias. Ela aproveitou o momento de reflexão de carreira provocada pela pandemia e decidiu pedir demissão para realizar o tão esperado sonho de fazer um mestrado internacional. O lugar escolhido? Portugal!

Echo não recebeu o encorajamento da família como esperava ao largar um emprego promissor para correr atrás de um sonho em plena pandemia e, em Portugal, mesmo tendo que lidar com o estigma de vir da China, a Echo nunca demonstrou se intimidar. A moça, ao contrário, conquistava a todos ao seu redor com seu sorriso gostoso e sua gargalhada fácil.

Ela ainda não tem certeza do caminho a tomar ao retornar a Guangzhou quando acabar seu mestrado, em março de 2021, mas ela tem a certeza do que definitivamente ela não quer e o que não funciona mais para ela após a experiência libertadora que ainda está vivendo.

Outra pessoa que tive a satisfação de conhecer um pouco melhor foi o Patrick Reagan, um canadense de 32 anos que há 21 anos se mudou com parte da família para o Reino Unido, no entanto apesar de possuir ambas cidadanias, hoje ele se reconhece mais britânico do que canadense.

Foto com Echo e Patrick: São Vicente, Ilha da Madeira, Portugal. Dez. 31, 2020.

Patrick é consultor e já prestava serviços remotos de pesquisa em direitos humanos, saúde e filantropia a instituições não -governamentais ao redor do mundo desde abril de 2019. Porém, somente em uma viagem de férias à Ilha da Madeira em outubro de 2020, e motivado pela quebra de limitações geográficas de trabalho promovida pela pandemia, é que decidiu aplicar para o visto de residência. Em dezembro do mesmo ano mudou para a charmosa ilha com seu escritório embaixo do braço: seu conhecimento e laptop, e lá pretende passar os próximos 12 meses. Patrick aproveita a sua flexibilidade no trabalho para, nos tempos livres, ir à praia, fazer trilhas e conhecer a cultura e gastronomia local.

Liberdade e flexibilidade foram as maiores lições que pude aferir do nomadismo digital. Essa aventura, obviamente aliada a um planejamento, antecipa o que um trabalhador tradicional talvez só desfrute na aposentadoria. Tal experiência me possibilitou ainda ampliar a consciência dos fatores externos que me influenciavam, além de melhor compreender como também impacto o ambiente à minha volta.

Um fator importante a se levar também em consideração, quando se fala em nomadismo digital, é a criação e a solidez de uma comunidade, a ser melhor discutida num próximo artigo.

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